Sempre tive dificuldade para pegar no sono. Meu pai descobriu algo que normalmente funcionava para me fazer dormir: dar voltas de carro na cidade comigo no banco de trás.

Não é por menos, vindo de uma família que sempre teve contato com a estrada, acabaria sendo influenciado pela paixão de dirigir. Começando pelo meu bisavô, motorista de praça. Já meu avô, em toda oportunidade, carregava o carro com as crianças e partia de viagem. Ainda hoje meu pai pega a estrada constantemente, seja para dar aulas, palestras, perícias ou visitar os filhos.

Em 2014 tomei a decisão de encarar 1.100km semanais para realizar estágio em São Paulo, mantendo os estudos em Pres. Prudente. Já mencionei aqui como foi enriquecedora tal experiência. As viagens eram realizadas de ônibus e noturnas, sem muitas possibilidades do que fazer, a não ser tentar dormir com um senhor armário disputando espaço contigo.

O ano de 2017 foi repleto de viagens para o interior de São Paulo. Várias mudanças ao longo do ano, visitas, comemorações, etc. Uma vez que na capital só havia eu e Nah (com a Kira, claro). Mas desta vez, de carro! O que mudou alguns aspectos das minhas viagens.

Hoje, novamente me aventuro nas estradas. Percorro 800km semanais para realizar uma pós graduação em Curitiba. Gostaria então de compartilhar algumas coisas que aprendi com este tempo que fico na estrada.

Paciência

Para alguém ansioso, tem sido um exercício e tanto. Aprender que não adianta ter pressa. O tempo que levará para chegar ao destino varia pouco. Isto é, as coisas que tiverem que acontecer levarão seu próprio tempo, não adianta forçar sua ocorrência.

Controle

Ter auto controle impacta diretamente na autonomia do veículo. Isto é, manter constância do pé no acelerador permitirá maior economia de combustível. O que significa um rendimento maior, menos dinheiro gasto para percorrer determinada distância. Encaro isso como uma analogia à carreira, mantendo calma e sendo constante naquilo que busco de próximos passos. Perceba que isto está diretamente ligado ao primeiro ponto: paciência.

Ócio

Com a rotina de consultoria, há pouco tempo para auto reflexão e ócio. Assim, ao dirigir pela estrada durante 5hrs, não há Netflix para assistir ou Kindle para ler. A única coisa que resta é uma playlist no Spotify e seus próprios pensamentos. Não tem como fugir disso. Dirigindo, sem poder dormir, “pensar” a única coisa que resta. Alguns nomeiam isso como descompressão, não sei se é exatamente isso, pois em alguns momentos tenho a sensação contrária.

Todos 3 me impactam de formas diferentes. Entretanto, o ócio apresentou os primeiros resultados. Neste tempo de estrada procuro:

Organizar os eventos gerados durante a semana; Traçar estratégias de como eliminar bloqueadores; Mapear próximos passos; Criar um plano de ação com base nas evidências recentes.

Busco elencar estes tópicos em relação a projetos pessoais em desenvolvimento e também nas atividades do trabalho full-time. É neste tempo que a maioria das soluções dos problemas surgem, seja um exercício complicado ou projetos no cliente. Um tempo de valor inestimável.

Infelizmente a rotina que nos é imposta muitas vezes impossibilita este tempo de reflexão e organização mental. Sou um privilegiado por ter este tempo de estrada para realizar essa “atividade non-billable”. Quem sabe teríamos pessoas mais engajadas e uma sociedade melhor caso tivessem a mesma oportunidade?