Esse texto nasce a partir da sugestão de Robson Tigre, em um comentário no LinkedIn. A ideia é trazer um pouco de como consigo “me manter produtivo de forma tão consistente”.

Aqui já temos o primeiro adendo: não me vejo tão produtivo assim. Reconheço o volume de material que estamos construindo junto à comunidade, mas ainda assim, me parece pouco. Me parece que ainda não é o suficiente para ter o impacto que desejo.

Mas vamos deixar esse papo de propósito um pouco mais para frente.

A questão é, o que eu tento fazer para um dia alcançar o nível que eu espero de produtividade e impacto?

A resposta: entrego o meu melhor todos os dias.

Agora o segundo adendo: o meu melhor não é o mesmo sempre.

O meu melhor

O meu melhor ao longo dos dias

Um bom exemplo é o que estou fazendo nesse momento. Estou na frente do computador em um domingo às 8:00AM, com criança me chamando de tempos em tempos, pensamento sendo interrompido constantemente, cachorro latindo, televisão com som alto, companheira precisando de apoio em algo, etc.

Então, o meu melhor hoje, talvez não seja tão bom como se eu estivesse em um lugar calmo, sem interrupções. Mas ainda assim, é o melhor que eu posso fazer hoje, agora. E isso é “melhor” do que eu nem ao menos tentar.

O que eu tenho aprendido durante os últimos 10 anos, é que nunca haverá cenário perfeito para eu entregar o meu “real” melhor. Contar com isso é ilusão. As realizações são feitas dia após dia, todo dia um pouquinho do meu melhor. Ou seja, não faz sentido esperar as melhores condições para eu entregar o meu melhor, talvez nunca aconteça. Assim, é melhor fazer algo se entregando verdadeiramente, e aprender com isso, gerando o menor resultado possível, do que não fazer nada e ter resultado zero.

Me convenço cada dia mais que a essência está justamente na rotina e trabalho diário, e menos em grandes eventos e marcos. Na verdade estes acabam sendo consequência do trabalho duro feito diariamente.

Em 2024, tivemos um grande exemplo disso com os jogos olímpicos, onde atletas do mundo todo disputaram títulos. Todos sabemos que os jogos acontecem a cada 4 anos, a partir disso, não adianta sentar e esperar o tempo passar para os próximos jogos. Os treinos acontecem diariamente, fora a participação em competições menores. Quanto tempo de treino e outras participações que a Rebeca Andrade realizou antes de executar seu solo de 1,5 minutos para ganhar o ouro?

Poxa, mas esse caso é muito particular, né? Temos um time-box de preparação e sabemos de antemão quando o evento acontecerá, podendo nos preparar com certa previsibilidade. Mas a vida não é bem assim em geral, não sabemos quando essas oportunidades acontecerão.

É nesse momento que faço uma associação com investimentos. Mais especificamente com juros compostos. Como assim? Juros compostos?

Sabe aquele papo de coach sobre melhorar 1% todos os dias para fechar o ano 365% melhor? É mais ou menos isso, só que melhor.

Dia Valor Crescimento (%)
0 R$1,00 0,00%
1 R$1,01 1,00%
2 R$1,02 2,01%
3 R$1,03 3,03%
4 R$1,04 4,06%
30 R$1,35 34,78%
45 R$1,56 56,48%
90 R$2,45 144,86%
180 R$6,00 499,58%
365 R$37,78 3.678,34%

A verdade é que se melhorarmos 1% todos os dias, ao final de um ano, melhoramos 3.678% em relação ao início. Essa é a magia dos juros compostos, e nessa magia eu acredito.

Gráfico de dias versus resultado

Uso a mesma lógica de meus investimentos para a produção de conteúdo: aportes recorrentes com o maior valor possível. Mesmo que o maior valor possível seja R$100,00. Lembrando que R$100,00 > R$0.

Perceba algo muito importante ao encarar a estratégia de juros compostos, é o fator tempo. Quanto mais tempo (mais iterações), maior o rendimento. Por isso é tão importante ter paciência e manter os aportes constantes, independente do valor.

Toda vez que abro uma live, escrevo um texto, gravo um vídeo, realizo publicações nas redes sociais, estou realizando aportes. Aportes estes, que são os melhores que posso oferecer naquele momento e circunstância.

Mesmo que eu não consiga “melhorar” 1% todos os dias, ainda que eu melhore 0,001%, ainda assim é melhor que 0%. Cada post pode ter valores de engajamento diferentes, mas ainda assim, é melhor do sua ausência.

Gráfico de dias versus resultado com aleatoriedade

Essa é a minha motivação em manter a consistência. Ainda que que não consiga os 1% todos os dias, ainda que eu não seja produtivo todos os dias.

Rotina de Streamer

Bom, essa foi a parte fácil. Agora vou tentar explorar como faço para executar isso falando um pouco do meu dia a dia. Vamos entender como eu tento executar “o meu melhor”.

De janeiro a outubro estive dedicado integralmente na criação de conteúdo na internet. Sem CLT, sem reuniões de alinhamento, sem 1:1, sem um time para liderar. A ausência de tudo isso tornou meu dia muito mais leve, embora a auto cobrança tenha aumentado significativamente, principalmente com os boletos chegando.

Durante este tempo, minha rotina era acordar entre 6AM e 6:30AM, junto com minha filha. Eu e minha esposa preparamos o café em conjunto e a seguir nos revesamos para levar a filhota para escola ou dar os cuidados necessários para a Kira (remédios, comida, limpeza, etc).

Chegando perto das 8AM essas tarefas já estão concluída e ligo o computador. Como a live só iniciava às 8:50, havia algum tempo para conferir as redes sociais e verificar o avanço de alguns investimentos bem como agendar alguns aportes caso tenha algo atrativo. Neste tempo, também realizava o post diário no LinkedIn, gerando imagens no MidJourney e escrevendo um texto, normalmente sobre o projeto atual das lives ou relembrando o pessoal que o Téo Me Why ainda existe e precisamos do apoio contínuo.

Essa parte de posts sempre é um desafio na verdade. Tem dia que a inspiração simplesmente não vem. Mas e aí? Só postamos quando estamos inspirados? O “meu melhor” nestes dias é sem inspiração mesmo, mas é alguma coisa. Faço um exercício rápido do que preciso dizer para meu público e seguimos em frente. Lembro de um pastor da minha antiga igreja dizendo que nem toda pregação é preparada inspirada pelo Espírito Santo, tem dias que realmente a inspiração divina não vem. Mas a pregação tem que acontecer!

Também acredito muito nisso. Faço o que tenho que ser feito, alguém pode ser alcançado mesmo por este post com pouca inspiração. A gente as vezes se engana, achando que temos o controle de como as pessoas vão reagir às nossas postagens. Em muitos casos, os posts menos preparadas podem fazer a diferença na vida de uma pessoa, o que já é um baita avanço.

Indo em frente, temos a live, das 8:50AM até umas 11:15AM. Esse horário é o limite de encerramento, pois enquanto a Nah busca Maria na escola, eu preparo o almoço. Em mais de duas horas de live, muitas ideias surgem e executamos muita coisa junto a comunidade. Essas duas horas, não vejo mensagens, não acesso redes sociais, é um tempo dedicado à comunidade e apenas a isso. É um nível de foco realmente muito alto, diria que é a parte mais produtiva do meu dia. Me arrisco a afirmar que essas duas horas valem mais do que as oito horas de trabalhos presenciais que já tive.

E novamente, nem todas as lives são assim, tem dias que posso estar doente ou com ânimo baixo, mas mesmo assim abro a live. Ainda que não seja um muro inteiro que será erguido, ao menos um tijolo será colocado no lugar certo. E isso conta!

Das 11:30 até as 13:30~14:00 minha atenção é da Maria. Almoçamos juntos, depois assistimos Bluey ou outro desenho que ela queira. Além de brincadeiras no chão, como “jogo da memória”, “tapa certo” ou blocos. É um tempo precioso, com qualidade, onde criamos conexão. Busco ficar distante do celular, embora seja um vício que ainda há muito o que melhorar.

Volto para o computador às 14hrs, normalmente para editar o vídeo do que rolou na live, estudar algum assunto, realizar algum teste em uma ferramenta nova, navegar na internet para saber o que está acontecendo. Mantenho a porta do quarto aberta para Maria me acessar sempre que quiser, ou seja, extremamente suscetível a interrupções. Só evito a porta aberta quando se trata de alguma reunião ou conversas online, de resto, sempre estou trabalhando com ela podendo me acionar.

As tardes mais calmas acontecem quando a Nah leva a Maria no Sesc ou na casa da minha mãe. Nesses momentos consigo ter um pouco mais de foco para escrever ou planejar algo.

Perto das 18hr, depois do banho, Maria me chama para brincar de algo com muita interação, como: esconde-esconde, correr atrás da Kira, dar cambalhota no chão, ou algum outro tipo de acrobacia que envolva um certo preparo físico de minha parte. Isso acontece enquanto Nah prepara a janta.

Às 19hr Maria se recolhe para o quarto, onde conto alguma história para ela, ou a Nah lê algum livro, finalizando com uma oração. Nessa época eu realizava caminhas diárias com a Kira, em torno de 1hr. Era um bom momento para pensar sobre como as coisas estão e como será o próximo dia.

Caso alguma ideia nova surgisse durante a caminhada, anotava isso no Obsidian para não esquecer. Fora isso, depois de um dia todo na frente do computador, raras vezes volto para a tela. A não ser que seja para dar aulas na ASN.Rocks (das 19 às 22).

Em geral, eu e Nah assistimos séries ou filmes todos os dias, comendo pipoca ou beliscando algo, até umas 22:30. Para no dia seguinte começarmos tudo de novo.

Nos fins de semana tudo muda. Acordo com a Maria querendo fazer panquecas (sim, todo fim de semana ela pede). Evito ao máximo fica no computador, posto algo no LinkedIn e já desligo. Meu foco é meu núcleo familiar. Vamos em atividades no Sesc, feira dos pequenos produtores, feira da reforma agrária, café da minha mãe, assistimos filmes mais longos e corridas de Fórmula 1.

Essa foi minha rotina durante 9 meses em 2024. Confesso que me fez muito bem. Minhas crises de ansiedade diminuíram drasticamente e me senti leve.

Rotina Streamer + CLT

Com meu retorno ao mercado de trabalho algumas coisas mudaram, como o esperado.

A rotina da Maria é a mesma: manhã escola, tarde casa.

Então, aproveito a manhã para fazer minhas lives diárias, agora acontecendo das 8:30 às 10:15. Dessa forma consigo participar da daily às 10:30, checando emails e preparando o que atacarei durante o dia até umas 11:30~12:00.

Mantenho meu ritual de assistir Bluey com a Maria, voltando para o trabalho entre 13:00 e 13:30. Com isso em mente, busco estender o trabalho até às 19hr, não passando de 19:30. Mas sempre com uma pausa para o esconde-esconde da Maria.

O desafio maior são as interrupções ao longo da tarde. Mas acredito que com o tempo ela está se acostumando.

Na verdade me sinto bastante privilegiado, trabalhando full home office, com muita flexibilidade de horário. Já mencionei isso em vídeos e posts, mas eu fui bem claro sobre a qualidade de vida que esperada e meu principal objetivo com o trabalho: aprendizado.

Esse é um ponto muito importante na verdade. Eu não me vejo tendo essa qualidade de vida estando em uma posição de gestão ou com mais responsabilidade. Durante meu dia sou acionado poucas vezes e durante esses primeiros meses, nunca precisei estender o trabalho além das 8 horas diárias.

Por esses motivos escolhi fazer essa migração de carreira para desenvolvimento, indo como dev-pleno, ainda que isso represente um baita downgrade de salário. Estou feliz em aprender e ter tempo de qualidade com minha família.

Um ponto extremamente importante nisso tudo, é eu ter clareza do que estamos atacando na sprint. Sabendo o que eu preciso fazer e quais as restrições, normalmente consigo andar sozinho e fazer minhas tarefas, mesmo com as interrupções da Maricota. Me sinto produtivo e capaz!

Vale dizer ainda que muito do que vejo no mercado me inspira a criar novos conteúdos para as lives e textos. Mesmo que ainda eu não me sinta seguro suficiente para isso.

Para fechar

Repare que ainda na CLT, mantenho minhas lives diárias. Todas lives são excelentes e ótimas? Com certeza não. Mas mantenho a consistência. Posso estar desanimado, sem saber o que fazer durante as lives ou qualquer outra coisa, mas aquelas duas horas são dedicadas para isso e apenas isso.

Ta ligado a frase memorável do Rock Balboa?

“Mas não se trata de bater duro. Se trata de quanto você aguenta apanha e seguir em frente. O quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando. É assim que se consegue vencer.”

É mais ou menos isso que entra na minha cabeça quando penso no Téo Me Why.

Tenho certeza que Rebeca Andrade treino muito, mesmo sem vontade de treinar. Mas todo e qualquer avanço é melhor que zero avanço.

Então, independente do que você pode fazer hoje, agora, ou todos os dias, se comprometa a fazer um pouquinho todo dia. Não precisa escrever um artigo no blog por dia, mas quem sabe um parágrafo por dia? Um post por semana? Um vídeo por mês? Mas comece! Tudo começa com um primeiro passo, nada surge do nada.

Não precisa ser 1% por dia, só precisa ser alguma coisa. E alguma coisa é maior que zero.