A profissão que eu escolhi
Nas últimas semanas tive que preencher diversos formulários com meus dados pessoais. Isso porque estamos buscando a primeira escola que minha filha frequentará. Dentre as perguntas, a mais difícil de responder: profissão.
Qual a minha profissão?
Estatístico? Nem registro no CONRE eu tenho.
Cientista de dados? Não estou atuando como tal no mercado.
Desenvolvedor? Atuei menos de um ano como dev, e também não é meu cargo atual.
Confesso que em alguns respondi “streamer”. Era o que eu senti mais próximo do que eu faço hoje. Além de achar bem da hora que minha filha tenha um pai streamer hehe.
Mas eu comecei a pensar melhor sobre o que eu faço e qual seria a minha profissão. Ainda que não tenha carteira assinada, não participe de um sindicato ou até mesmo tenha vínculo empregatício com uma instituição de ensino, entendo que de fato, professor seria a mais adequada. Escolhi ser professor!
Hoje é dia do professor. Bem no dia que matriculei minha filha em uma escola e coloquei essa profissão no formulário.
É sobre isso que quero trazer neste texto: “eu escolhi ser professor”.
Tanto nas redes sociais quanto em podcasts e entrevistas, sempre aparece a pergunta: “por que você ensina na internet? Porque ensina de graça”
A resposta mais breve é porque eu acredito que o conhecimento deve ser livre. Para mim isso é mais do que o suficiente, mas vamos explorar um pouco mais.
Nasci em uma família que com muito suor conseguiu me dar uma educação de qualidade, nas melhores escolas da minha cidade. Tive a chance de fazer uma faculdade pública, onde pude aprender muita coisa que poucas pessoas no Brasil têm a possibilidade de frequentar.
Com o tempo, entendi isso. Reconheci meus privilégios e acessos, o que me gerou um baita incômodo. Comecei a observar tantas pessoas pobres, sem acesso à informação, pessoas com fome. Uma parada que sempre faz meu coração chorar é ver pessoas de idade avançada trabalhando para caramba em turnos noturnos e em outros serviços pesados.
O que eu posso fazer a respeito? O que eu, na minha pequenez, posso fazer? Não tenho dinheiro e recursos para acabar com isso.
Mas talvez, eu possa ser mais uma formiguinha que ajuda a acabar com esse ciclo, possibilitando que as novas gerações tenham acesso à informação, terem acesso a um conteúdo que ajude a transformar suas realidades e de sua família. Dentro do nicho que eu domino, posso compartilhar o que eu sei. Quem sabe, o meu conhecimento pode ajudar que menos pessoas passem por essas situações.
O jeito foi começar a ensinar. E sempre com essa vontade de um dia poder me dedicar exclusivamente a esse ofício.
Mas não é fácil viver de educação no Brasil. Ainda mais nesse formato maluco, com objetivo de emancipação. E isso tem que ficar muito claro! Meu objetivo não é ensinar a técnica ou fazer com que você consiga uma vaga de emprego. Meu principal desejo é que você possa se libertar, que você passe a entender como as coisas funcionam. O dinheiro, sucesso na carreira e tantas outras conquistas serão consequência da sua libertação.
Para seguir essa ideia, dificilmente seria possível me vincular a uma escola ou faculdade tradicional. Não só pela liberdade no método e formato, mas pelo acesso. Não tem como seguir esses princípios sem que seja gratuito ou extremamente acessível. Quem mais precisa disso não tem condições e recursos para participar de cursos em uma instituição dessas. Quem teria interesse em algo que não tem o lucro como objetivo?
Por isso afirmo: o meu compromisso é sempre com quem mais está precisando, é com quem está sendo explorado e não tem mais nada além de sua força de trabalho para sobreviver. Meu compromisso é com quem perdeu e precisa de ajuda.
Depois de 10 anos no mercado de trabalho, eu consegui virar essa chave e escolher ser professor. Eu tive a chance de poder escolher. Não é todo mundo que pode tomar essa decisão. É uma pena que essa classe seja tão desvalorizada, teríamos ainda mais professores extraordinários ensinando as novas gerações e talvez menos charlatões vendendo cursos que não ensinam nada.
Eu quero muito ver isso acontecendo. Mais pessoas se levantando e compartilhando seus conhecimentos de maneira livre. Que mais pessoas possam espalhar o que sabem e juntos darmos mais acesso a quem mais precisa. Anseio pelo dia em que as pessoas poderão escolher aquilo que desejam fazer, sem que o fator financeiro seja motivo de desistência e desânimo.
Agradeço a todas as pessoas que continuam acreditando e apoiando meu projeto de educação. Não tem sido fácil, e só Deus sabe do que tenho aberto mão. Mas saibam que graças a vocês, eu tenho a chance de escolher ser professor.
Tenho um forte apego à fé cristã, onde coloco meus passos, projetos e vida nas mãos de Deus. Dificilmente falo sobre isso, porque para mim, não se trata de falar do evangelho, mas sim vivê-lo. É o que busco: viver todos os dias, entregando o meu melhor, não importa para quem seja. Mesmo sendo difícil, mesmo sendo luta atrás de luta. Não precisava ser assim, mas venceremos. Até a vitória.
Obrigado e parabéns a todos os professores. Precisamos de vocês. Feliz dia!