Este espaço deveria ser meu refúgio para os pensamentos mais profundos, obtendo a liberdade de escrever aquilo que bem entendesse. Quase como um diário do que penso e entendo sobre o mundo, sem censura alguma ou preocupação com o impacto disso na minha carreira. A própria ideia do “Livro do Guru” é gerar autorreflexão, relendo-o para entender como penso e para onde devo seguir adiante.

Entretanto, durante o processo de desenvolvimento em alguns textos, percebi uma determinada autocensura. Na realidade, talvez seja mais um lance de encaixar as palavras certas para me vender melhor. Estou indeciso sobre qual delas me traz mais nojo.

Provavelmente neste tempo eu tenha esquecido de algo que Marcelo Hartmann me disse durante a faculdade, em umas das noites que bebíamos Heineken a R$0.99, fazendo uso de gelo e sal para gelá-las mais rápido:

“Calvinho, vai fazer o TCC com Dotinha e Python? Usando uma técnica de modelagem que nenhum professor trabalha? Vai nego véio! Mas faça por você! Esquece agradar orientador, banca ou quem seja! Faça a parada por você e mais ninguém!”

Durante todo o trabalho de programação e formulação teórica do projeto, tive isso em mente. Ao final, avaliado pela entrega do trabalho realizado, entendi que quando fazemos algo por nós, com muito tesão, a motivação é maior do que dinheiro ou qualquer outro reconhecimento externo a nós mesmos. O reconhecimento surge como algo natural, de forma consequente ao bom trabalho realizado.

Penso exatamente da mesma forma em relação às notas das provas e conhecimento. Ao estudar buscando conhecimento, a nota da prova torna-se algo que será atingido de forma natural. Quando encarei o conhecimento das disciplinas dessa maneira, estudar ficou mais fascinante (e foda-se a prova).

Hoje, tendo um contato maior com o mundo corporativo, noto que ele funciona de forma contrária a este ideal, sendo forçado a trabalhar de trás para frente. Ou seja, a primeira coisa que se deve pensar é: como monetizar? Essa pergunta vem antes de qualquer desenvolvimento ou mão na massa.

Atenção! Ainda é necessário um ppt bem chamativo e uma oratória super bem desenvolvida, talvez ainda mais do que o próprio projeto/ideia. Sempre ressaltar os pontos positivos e dar um jeito de ‘engambelar’ os negativos. Isto é, deve-se saber se vender muito bem! Assim como sua ideia. Afinal, bullshitagem e buzzwords que contam, vide Bel Pesce. Novamente, me enoja.

Minha batalha diária é manter minha essência no desenvolvimento dos projetos sem esperar grande reconhecimento em troca. Mas para poder continuar pagando os infinitos boletos, é preciso envolver o mínimo de “negócios” no dia a dia. O desafio é deixar sempre o lado da satisfação pessoal ganhar por alguns gramas na balança da vida.

Para isso, faço questão de evitar ao máximo as bullshitagens e buzzwords. Montando e conduzindo as apresentações da maneira que me deixem mais confortável e satisfeito com minha performance e autocrítica. Busco uma mensagem clara, objetiva e de fácil entendimento, sem rodeios. Desejo sair de cada reunião com a certeza de que todos obtiveram as informações corretas e sem subjetividade.

Na realidade, não quero me tornar covarde e ter que primeiramente mapear “monetização” antes de qualquer outra ideia que tenho. Torna-se um bloqueio no processo criativo que busco desenvolver. Ser uma pessoa menos acovardada em relação a fazer as coisas que tenho paixão, sem me preocupar com o reconhecimento disso à olhos de terceiros.

É o que eu desejo de um mundo melhor, onde pessoas sejam reconhecidas pelo seu bom trabalho e não de como se vendem com seu gó-gó. Assim, avançamos rumo a liberdade de fazer as coisas por nós mesmos, sendo mais produtivos e inovadores, sem capatazes.