Esse não é um tema que costumo abordar e não faço ideia de quando falerei sobre ele novamente. Isso se dá por certa insegurança intrínseca à minha existência e até mesmo pelo tempo breve (4 anos) que tive em cadeiras de gestão. Mas acontecimentos recentes me fizeram refletir e colocar tinta no papel na esperança que outras pessoas reflitam e quem sabe se tornem líderes melhores do que eu.

Imagino que somos adultos e que você tem o discernimento de que este texto é a minha opinião, formada pela minha própria trajetória, longe de representar todas as opiniões, gostos e estilos de gestão, mas o óbvio precisa ser dito: caso discorde, sugiro que tente escrever seu próprio texto. Por aqui, tentarei dividir meus pensamentos em tópicos para facilitar a escrita e consequentemente a leitura e entendimento.

Como nasce uma liderança?

Desde o início da minha carreira tive a sorte de ser liderado por pessoas incríveis. Cada qual à sua maneira me ensinou lições valiosas sobre gestão e liderança. Se me tornei um bom líder, não foi por falta de bons exemplos e de oportunidade, devo reconhecer. Ao mesmo tempo, presenciei outras lideranças bem babacas e comportamentos que nunca me propus a seguir.

Bom, até aí nenhuma novidade. Tantas outras pessoas passaram por isso e não necessariamente se tornaram novas liderança. O que pode haver de diferente?

Há anos eu acredito que a liderança nasce a partir do reconhecimento dos pares, isto é, pessoas como você, que por uma ou mais razões, se sentem inspiradas e confiam em você. Em um ambiente de trabalho, convivendo com as mesmas pessoas por horas, dia após dia, essas duas coisas (inspiração e confiança) só serão adquiridas por meio da relação humana. Diria que os momentos mais difíceis são os mais propícios para nascer uma relação de confiança.

Vou além, a maior parte dessa relação é criada e sustentada não pelo diálogo e palavras, mas sim pelo exemplo. Existe uma diferença bem grande entre afirmar que “somos um time”, e “jogar junto com o time”. São as ações que contam, não palavras.

A verdadeira liderança não é um decreto de posse ou até mesmo um cargo. A liderança é uma posição que será ocupada por alguém que o próprio time reconhecerá, você querendo ou não, de maneira formal ou não. Isso é tão forte que independe do que você acha ou o que qualquer outra pessoa acima de você possa decidir (a não ser trocar o time todo).

O papel da liderança

Treinamentos sobre o tema, materiais institucionais e um bocado de chefes dirão algo próximo a: o papel da liderança é garantir que seus liderados estejam alinhados com os interesses da companhia.

Em resumo: busca pelo capital que não é nosso. Mas esse é o jogo que jogamos desde o nosso nascimento. Será este o verdadeiro papel da liderança? Não lhe parece algo que um senhor de engenho diria a um capataz? Pois é, temos muita gente com essa mentalidade, ainda hoje.

Este não é muito o meu estilo de liderança. Sigo de outra maneira, algo como: o papel da liderança é servir. É o que busquei em minhas oportunidades, servir ao meu time.

Vale reforçar que servir não é cumprir desejos do time, fazer o que o time quer. Eis o que penso sobre “servir ao time”:

  • Ouvir o que o time tem a dizer, de forma coletiva e individual;
  • Participar e auxiliar na evolução da carreira dos liderados de forma ativa;
  • Tomar decisões pautadas no que é melhor para o time (sempre no coletivo);

Tem outras ações que podemos destacar, mas focando nessas três, as demais se tornam consequência direta, como: desbloquear impedimentos em tarefas e relações entre demais áreas; Direcionar o time em decisões estratégicas e impasses; Gestão de conflitos; Manter o time engajado; Busca por resultados; Estar ao lado do time e defendê-lo, etc

Embora a lista possa ser longa, os primeiros itens resumem bem, pois, se servir ao time é pensar no que é melhor para o coletivo, novamente, todo o restante é consequência. Para o time continuar existindo, a empresa precisa existir, para empresa existir, as metas precisam ser alcanças, e assim por diante.

Não nos esqueçamos da parte individual. O que cada membro do seu time tem a dizer é importante. Não só sobre o que pensa em relação ao próprio time e companhia, mas suas aspirações e crescimento de carreira. Você tem a chance de servir individualmente cada pessoa, impactando diretamente sua jornada e vida.

É assim que eu tomei cada decisão, colocando o time em primeiro lugar. Segui essa postura para defender vagas, promoções, méritos, decisões em processos seletivos, desligamentos, e tantas outras situações.

O peso da liderança

Se ponto anterior ficou claro, deve ter percebido que não vai ser possível agradar todas pessoas do seu time. Isto acontece pois suas decisões não são mais voltadas ao que é melhor para indivíduos, mas sim, para o coletivo. E se tem algo que sabemos bem, é que decisões coletivas não agradam todas as pessoas. Acostume-se com isso.

Me arrisco a afirmar que o pior tipo de liderança que existe, é aquela que tentar agradar todo mundo. São decisões como essa que no curto prazo parecem ótimas, mas em alguns meses o time desmorona como um castelo de cartas, seja por falta de performance, propósito, estagnação de carreiras ou conflito entre membros. É a receita certa para sua própria frustração e se meter em um buraco difícil de sair.

É preciso ter coragem para fugir deste cenário. Digo coragem, pois é o necessário para encarar conflitos e não fugir ou escondê-los. Parece fácil, mas lhe garanto, não é. Este foi meu maior aprendizado enquanto líder e ponto de evolução: ter conversas difíceis com liderados. Depois de algumas experiências, percebi que a transparência é sua aliada. No final, todas pessoas entendem, algumas mudam e se adaptam, outras buscam novas oportunidades (por vontade própria ou não) sem grandes surpresas para ambas partes.

Essa palavra chave que muda o jogo: transparência. Para mim é um valor que carrego, compartilhando o máximo de informação possível com meu time (dentro da confidencialidade) para que possam tomar as melhores decisões possíveis, afinal, somos todos adultos e devemos ser tratados como tal.

O peso de cada decisão sua deve cair sobre você ou ser escalada para cima, nunca descer sobre seus membros. Por isso faça cada decisão de forma sóbria e planejada, conte com sua liderança direta e pares, você não precisa resolver tudo de forma solitária.

Por que ser liderança?

Porque precisamos mudar o mundo.